Por meio do eixo de atuação de desenvolvimento humano, a área de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal desenvolve estratégias diversas voltadas à promoção de cuidado e bem-estar da população do Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo.
Por meio do selo Acolhe do Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação, as estratégias criadas para assistir a população local reverberaram em outras frentes. Em caráter imediato, a equipe do equipamento confeccionou 858 currículos para moradoras e moradores em busca de uma oportunidade profissional e que necessitavam de suporte nesse contexto.
Em paralelo, a equipe do Galpão ZL fez 20 atendimentos de alta complexidade, identificando casos e encaminhando para serviços públicos que possam oferecer o atendimento e acompanhamento qualificado à população em alta vulnerabilidade do Jardim Lapena.
“É de extrema importância ter espaços dedicados à escuta das demandas psicossociais que podem oferecer um ponto de apoio essencial a pessoas vulnerabilizadas, especialmente aquelas que encontram barreiras no acesso às políticas públicas.”
(Mauricélia Martins, analista de Programas e Projetos)
Além disso, dentro da perspectiva de que é fundamental democratizar o acesso à saúde mental, a SUR Psicanálise, projeto apoiado na primeira edição do edital Territórios Clínicos, promoveu atendimentos para a população do Jardim Lapena.
Galpão ZL porta para fora (Selo Acolhe)
Em 2024, a equipe de Prática de Desenvolvimento Local, ao entender a necessidade de interagir de forma mais orgânica com a comunidade, passa a atuar mais da porta para fora. Essa abordagem parte de premissa segundo a qual é necessário conhecer o território e seus diferentes moradores, assim como suas fragilidades e potencialidades, para fortalecê-los.
Conhecer as fragilidades ajuda, então, a elaborar e aplicar mais assertivamente nas intervenções territoriais, na comunicação adequada e mobilização inclusiva. A saber, o conceito de mobilização inclusiva consiste em lógica segundo a qual todas as pessoas habitantes recebam as informações em uma linguagem acessível e que, dessa maneira, garanta a participação de todas as pessoas com total liberdade de expressão e sem quaisquer modalidades de impedimento.
“As ações no território trazem a oportunidade de fortalecer o Tamu Junto. Oportunizar acesso à informação, formação e livre ação dos sujeitos contribui para a construção de um território politicamente ativo. Estar no dia a dia do território, acompanhando suas mudanças e anseios, estimulando participação social é um dos eixos de atuação do Acolhe.”
(Vânia Silva, analista de Programas e Projetos)
Dialogar para construir
A promoção de diversidade e inclusão é uma estratégia que tem também papel central para o desenvolvimento socioterritorial. Dentro dessa chave, a equipe de Prática de Desenvolvimento Local elaborou, em parceria com o Comitê de Diversidade e Inclusão da Fundação Tide Setubal, o projeto Diálogos Diversos.
A iniciativa, que consistiu em um ciclo de conversas sobre temas como gênero, etarismo, importância da diversidade para a saúde mental e equidade racial, tem como objetivo mostrar como esses e demais aspectos se relacionam diretamente com as desigualdades – e como trabalhar sobre eles proporciona resultados positivos para melhorar a qualidade de vida no território.
Por meio do projeto, sete organizações locais desenvolvem iniciativas focadas em diversidade e inclusão, com capital semente de R$ 1.250, disponibilizado para a realização de suas ideias. Desse modo, a ação busca consolidar o compromisso da Fundação com a justiça social e o fortalecimento das periferias.
“A verdadeira transformação começa quando nos damos conta de que a desigualdade não é um problema alheio, mas sim uma questão que afeta a todos nós. Nesse sentido, é importante criar ambientes inclusivos e respeitosos, onde todos possam se sentir valorizados e ter oportunidades iguais.”
(Malu Gomes, analista de Programas e Projetos)
A partir dessa premissa, o projeto Diálogos Diversos selecionou as organizações e iniciativas Quadro Preto, CRAS São Miguel, Cria na Vila, Guardiãs do Território, Ciclolog, CEI Jardim Lapenna e GT de Juventude do bairro para desenvolver ações sobre os temas debatidos durante os encontros. Tais grupos receberam mentorias quinzenais para implementar iniciativas no território que sensibilizassem a população sobre as ideias que nortearam os ciclos iniciais de conversas.
Guardando o bem-estar do bairro
Para amplificar a capilaridade do suporte à população do Jardim Lapena, a equipe do Galpão ZL apoiou e desenvolveu ações em parceria com as Guardiãs do Território. O grupo, que contou com 202 mulheres integrantes durante 2024, tornou-se referência no cuidado no Jardim Lapena e demais bairros da região.
Para se ter uma ideia, em 2024, constatou-se que 2.176 pessoas buscaram apoio no Espaço Cuidar, núcleo do grupo. Além do suporte imediato a moradoras e moradores do território, as integrantes participaram da construção da horta comunitária do bairro e de intervenções capitaneadas pela equipe do GT de Reurbanização do Jardim Lapena. Outra ação com esse teor da qual as Guardiãs fizeram parte foi o projeto para alimentação saudável e de ervas medicinais com a população idosa do bairro.
Com o projeto Bazar Sustentável, as Guardiãs promoveram um movimento de separação de resíduos nas residências locais, mais de 500 garrafas PET, óleo de cozinha, latinhas e sacolas plásticas foram retiradas do lixo, viários e esgotos. Esse processo teve como objetivo ensinar os princípios da sustentabilidade enquanto apoiam a comunidade com os diversos itens do bazar.
Elas amplificam a visão sobre as demandas do território e articulam com os diversos equipamentos da rede de proteção local e proximidades. Acolhem as demandas de baixa e média complexidade do território e encaminham para o Acolhe do Galpão as de alta complexidade – essa parceria objetiva fortalecer o cuidado das famílias em suas dificuldades.
Ainda, suas presenças em espaços políticos de decisão abrem portas para o diálogo e coloca o território em posição mais articulada e mobilizadora, apoiando sempre o plano de bairro, instrumento precursor de mudanças na participação comunitária. O grupo também influencia a participação de mulheres nas reuniões, apoiam pesquisadores sociais, projetos, mapeamento de território, visitas domiciliares e oficinas diversas que visam promover espaços de descompressão emocional.
“As Guardiãs seguem aprendendo e ensinando. O reconhecimento do trabalho coletivo está nas premiações que receberam, Prêmio Chico Xavier de Ações Humanitárias, Título Atitude Cidadã do Instituto Lixo Zero Brasil e Prêmio Periferia Viva.”
(Vânia Silva, analista de Programas e Projetos)
As premiações deram visibilidade às Guardiãs e permitiram que algumas de suas integrantes pudessem ocupar espaços de representação importantes, como no caso do recebimento do Prêmio Periferia Viva em que duas integrantes estiveram no evento que contou com a participação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de diversos ministros.
Ainda, a experiência das Guardiãs do Território foi tema de diálogo com representantes de organizações de demais localidades que também atuam com assistência social. Em outubro de 2024, Daniele Matielli, Kelly Cristiane e Marleide Rezende, integrantes do grupo, falaram sobre o trabalho das Guardiãs durante a atividade Território, Mobilização Social e Cuidado, parte da programação da Semana de Inovação, da Escola Nacional de Administração (Enap).