Ser um espaço destinado ao debate e à reflexão de saberes ancestrais afro-brasileiros. Essa é uma das premissas da Plataforma Ancestralidades, iniciativa cogerida por Fundação Tide Setubal e Itaú Cultural.
Em 2024, ao manter no horizonte de atuação o diálogo sobre essa temática com pessoas pesquisadoras e centros de estudos, com o objetivo de gerar pesquisas baseadas em abordagens que ressignifiquem a lógica que norteia a produção de conhecimento no Brasil, a Plataforma Ancestralidades desenvolveu a segunda edição do Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa.
A iniciativa teve como foco fomentar pesquisas que se debruçassem sobre saberes relacionados a meio ambiente e raça. Nesse sentido, ao considerar a promoção da equidade e o fomento ao protagonismo de integrantes de grupos sociopolítica e academicamente minorizados, o edital contemplou, em seu processo de seleção, aspectos que assegurassem a participação de pessoas de segmentos em situação vulnerável e a seleção de projetos das cinco regiões que compõem o território brasileiro.
Sobre a seleção
O Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa 2024 contou com 267 inscrições, sendo 168 na categoria Pesquisas e Estudos em Andamento e 99 submissões no segmento de Pesquisas e Estudos Concluídos.
Após duas etapas de seleção e de avaliação dos projetos submetidos, 12 estudos foram escolhidos: cinco na categoria Pesquisas e Estudos Concluídos – as pessoas pesquisadoras receberam R$ 18 mil cada. Ainda, outros sete foram laureados na seção Pesquisas e Estudos em Andamento e contaram com premiação de R$ 12 mil. Confira a relação de pessoas selecionadas:
Pesquisas e Estudos em Andamento:
- Fatima Santana Santos, de Lauro de Freitas (BA), autora do estudo Travessias, Etnometodologia e Afroformação: por experiências de felicidade na educação infantil;
- Suane do Nascimento Saraiva, de Porto Velho (RO), autora do estudo O Trabalho das Mulheres Pescadoras da Amazônia: identidade, empoderamento e resistências da colônia de pescadores Z-41, município de Ipixuna (AM);
- Karina de Paula Carvalho, do Rio de Janeiro (RJ), autora do estudo Produzir Soberania Alimentar Está para além do Plantar: a experiência do Centro de Integração na Serra da Misericórdia/RJ na promoção de soberania e justiças na favela Terra Prometida;
- Paulo Jeremias Aires, de Campinas (SP), autor do estudo Você Está em Território Akroá Gamella: história oral da resistência de um povo indígena “extinto” do Maranhão;
- Sileusa Natalina Menezes Monteiro, de São Gabriel da Cachoeira (AM), autora do estudo Da Carne da Terra se Faz a Cerâmica;
- Tereza Raquel Arraes Alves Rocha, de Crato (CE), autora do estudo Pensar e Bem-Viver na Caatinga: quando plantas, bichos e pessoas falam;
- Caiene Reinier Freitas Alvarenga, de Goiânia (GO), autora do estudo Racismo Ambiental e Saneamento Básico na Região Metropolitana de Goiânia.
Pesquisas e Estudos Concluídos:
- Giselly Barros Rodrigues, de São Paulo (SP), autora do estudo Tenegres – Territórios Negros e as Escolas: descobrindo o lado norte de São Paulo (Brasilândia);
- Lucas Bispo dos Santos Castro, de Salvador (BA), autor do estudo Habitar as Águas: uma abordagem por outras epistemologias de existência;
- Flávia Andrea Sepeda Ribeiro, de Ananindeua (PA), autora do estudo Marcha das Mulheres Negras Amazônidas: dimensões interseccionais na comunicação ativista em tempos de pandemia;
- Samuel de Souza, de Biguaçu (SC), autor do estudo Histórias de Ojepotá: traduções de memória viva Mbya Guarani em desenhos;
- Maísa Joventino dos Santos, de Penedo (AL), autora do estudo Mulheres Quilombolas e o Rio São Francisco: entre vida e morte.
Seminário, premiação e música
A edição 2024 do Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa contou com um evento presencial, realizado em novembro de 2024, no Itaú Cultural, para premiar as pessoas selecionadas no edital.
A solenidade ocorreu dentro do Seminário Ancestralidades: desafios ambientais e raciais. O encontro abordou, durante duas mesas de diálogos, questões como a luta por justiça climática e a exposição desigual de povos originários e comunidades tradicionais às degradações do meio ambiente.
A primeira mesa, Os Desafios Ambientais e a Luta por Justiça Climática: perspectivas ancestrais, teve mediação da jornalista Tatiane Matheus, pesquisadora de justiça climática, gênero e racismo ambiental, e a presença de:
- Junior Aleixo, coordenador de pesquisa e dados no Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC);
- João Paulo Lima Barreto, filósofo e antropólogo amazonense indígena do povo Yepamahsã (Tukano) e fundador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi;
- Thales Miranda, arquiteto, urbanista e pesquisador sobre cidades amazônicas, justiça ambiental, racismo e mudanças climáticas.
Já a segunda rodada, Enfrentando o Racismo Ambiental: povos negros e indígenas em confluência para fazer mundos, colocou em evidência os impactos e riscos ambientais aos quais as populações de locais marginalizados e vulnerabilizados estão submetidas. Com mediação da jornalista Maryellen Crisóstomo, ativista dos direitos humanos quilombolas pelo pleno acesso ao território, a atividade contou com a participação de:
- Ana Sanches, atuante na Rede Antirracista Quilombação e doutoranda em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP);
- Antônia Kanindé, indígena da etnia Kanindé, museóloga e uma das articuladoras da Rede Indígena de Memória e Museologia Social do Brasil;
- Taynara do Vale Gomes Pinho, arquiteta e urbanista que trabalha com planejamento urbano e regional.