Ampliar o convívio da população local e criar opções de acesso e de experiências para moradoras e moradores do bairro para, desse modo, ter como resultado o apoio a mudanças individuais e também coletivas. Esses aspectos, intrínsecos ao eixo de desenvolvimento humano de Prática de Desenvolvimento Local, norteiam as ações voltadas à população do Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo. Essa premissa reflete-se, então, nos projetos implementados em 2024 por meio dos selos Esporte e Cultura do Galpão ZL, núcleo da área em funcionamento no bairro.
Um dos destaques do selo Esporte do Galpão ZL é o Projeto Toque de Letras. Em parceria com a Fifa Foundation, o projeto oferece aulas de futebol para crianças e adolescentes do território. Nesse sentido, participaram, em 2024, 58 meninas e 185 meninos. Em âmbito regional, 180 alunas e alunos (55 meninas e 125 meninos) são do Jardim Lapena e 63 participantes (3 meninas e 60 meninos), do Jardim Miragaia.
O diferencial deste projeto está na importância de diversas atividades dentro do seu escopo, que vão além do futebol, principal atrativo, e abordam temas como cidadania e cultura. A periferia, frequentemente vista como um espaço de exclusão social, enfrenta desafios no acesso a serviços básicos como saúde, educação e segurança. Discutir a cidadania nessas áreas é falar sobre os direitos e lutas de uma população que muitas vezes tem seu pleno reconhecimento negado, sendo um processo que envolve participação política, empoderamento e cultura. A cultura nas periferias é dinâmica e plural, refletindo a identidade, resistência e luta contra a marginalização, ultrapassando as práticas artísticas e se conectando com a vivência cotidiana e as histórias dessas comunidades.
“Tratar da cidadania em nosso campo de trabalho significa contextualizar a realidade da periferia, discutir direitos sociais, desigualdade, participação política e representatividade, além de apresentar desafios e oportunidades, sempre trazendo exemplos de lutas e conquistas.”
(Thiago Cassimiro, analista de Programas e Projetos)
Outra iniciativa emblemática do selo Esporte do Galpão ZL compreende o Projeto Próxima Faixa. O programa, que lida com o desenvolvimento de crianças e adolescentes em âmbitos físico e social, ofereceu, no decorrer do ano, aulas de judô para 18 meninas e 33 meninos, entre os quais 27 eram federadas e federados. Além disso, a ação contou com aulas de capoeira, das quais participaram 25 meninas e 18 meninos.
O ano de 2024 foi extremamente produtivo, com novas experiências e conquistas significativas. Houve 23 alunos federados, três selecionados para a Bolsa Atleta 'Bolsa Rei Pelé' e um aluno que se destacou como o terceiro melhor do estado de São Paulo. Para completar, um aluno ainda terá a oportunidade de disputar uma bolsa de estudos. Esses resultados consistem em grande avanço na vida dos participantes e de suas famílias, refletindo o impacto positivo do selo Esporte.
Escrevendo histórias página a página
Outro eixo de destaque do Galpão ZL no segmento de desenvolvimento humano é o Ponto de Leitura do Jardim Lapena. Gerido por meio de parceria com a Coordenação do Sistema Municipal de Bibliotecas (CSMB), o espaço, que em 2024 completou 15 anos de funcionamento, teve 4.965 pessoas frequentadoras no decorrer do ano. Ainda, realizou 1.866 empréstimos de livros, e 7.964 títulos foram consultados durante o mesmo período.
O Ponto de Leitura contou também com duas rodas de conversas com pessoas autoras de livros e sediou dez lançamentos de obras durante o ano. Um dos destaques nesse contexto foi, inclusive, a atividade relativa à autobiografia Minha Escolha pela Ação Social, escrita por Maria Alice Setubal, presidente do Conselho Curador da Fundação Tide Setubal. Além disso, o Ponto de Leitura do Jardim Lapena foi sede de 13 atividades culturais vinculadas à agenda da CSMB.
O Ponto de Leitura tem sido espaço de transformação, onde a literatura não consiste apenas em uma forma de entretenimento, mas em ferramenta para o desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, os frequentadores não são apenas leitores, mas protagonistas de suas próprias histórias. Desse modo, o espaço promove o protagonismo das pessoas leitoras e escuta de suas necessidades. Esse processo permite que elas e eles desenvolvam a sua criticidade, para que possam entender os seus respectivos papéis na busca por direitos e na construção de uma sociedade mais justa.
Nos 15 anos de existência do Ponto de Leitura, pode-se destacar também outra marca emblemática: por meio da parceria com a Rede Vaga-Lume, organização que implanta bibliotecas em comunidades rurais da Amazônia Legal brasileira. A articulação, que ocorre por meio de intercâmbio entre crianças e adolescentes do Jardim Lapena e da região amazônica, completou 11 anos de existência em 2024 e contou com a participação de 20 crianças e adolescentes.
“O Ponto de Leitura tem poder político muito forte. Quando frequentam um ponto de encontro, as pessoas começam a conversar e a se tornar mais críticas da realidade.”
(Malu Gomes, analista de Programas e Projetos)
Outro ponto a se destacar nesse sentido diz respeito às gelatecas, geladeiras transformadas em estantes de livros instaladas em praças e pontos estratégicos no território. Houve, no decorrer do ano, a instalação de três gelatecas, por meio das quais aconteceram doações de 2.653 livros e entregas de 1.265 obras por meio do projeto Bike Literária.
Cinema e diálogo
Finalmente, o Galpão ZL realizou sessões de cinema do Cineclube Spcine Galpão ZL, que consistiu em parceria entre a Fundação Tide Setubal e a Spcine, empresa de cinema e audiovisual de São Paulo, uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo focada no desenvolvimento dos setores de cinema, TV, games e novas mídias, com o objetivo de promover reflexões na comunidade do Jardim Lapena. Na programação, ocorreram quatro encontros destinados ao público do território.
A primeira edição do projeto aconteceu em outubro e contou com a participação de representantes das cinco coletivas que realizaram a quarta temporada da websérie Ancestrais do Futuro, criada pela Fundação e composta por cinco episódios produzidos por coletivas audiovisuais de territórios periféricos do Brasil.
O segundo encontro contou com a exibição do curta-metragem O Sonho Periférico, da Cinequebrada Produções (SP), que fez parte da segunda temporada da mesma série. Já o terceiro encontro, em dezembro, teve o tema Mulheres, Território e a Tela do Cinema e a participação das Guardiãs do Território.